- Mr. Mauser e Mr. Maxim trabalharão para nós. E, seja ele qual for, o chefe saberá resolver a situação. Digo que desancarão esta canalha e que lhe passarão por cima. Professor, o boião de caviar!
Mas o velho sábio não se deixava convencer.
- Afinal- interveio Mr. Patterson, com o seu sotaque escocês, lento e preciso -, será uma marca de cortesia para com os oficiais, nossos libertadores e nossos convidados, oferecer-lhes um alimento decente. Partilho a opinião do professor: guardemos o caviar para o jantar.
O argumento despertou em toda a gente o sentimento da hospitalidade. Depois, havia algo de agradavelmente cavalheiresco na ideia de reservar aquele pequeno mimo para valorizar a ementa dos libertadores. Não se falou mais em caviar.
- Na verdade, professor - prosseguiu Mr. Patterson -, eu pretendia dizer há pouco que era a segunda vez que o senhor sofria um cerco assim. Tenho a certeza de que nos interessaria a todos se nos fornecesse alguns pormenores do primeiro.
O velhote mostrou-se mal-humorado, contraindo as sobrancelhas.
- Foi - disse - em 1882, em Sung-Tung, no sul da China.
- É precisa - disse o missionário - uma extraordinária coincidência para que tenha já conhecido uma situação análoga. E como foi socorrido em Sung-Tung?
- Não fomos socorridos.
- O quê? A praça caiu?
- Caiu.
- Contudo, ainda está vivo?
- Sou médico ao mesmo tempo que entomologista. O inimigo tinha feridos e poupou-me.
- E os outros?
- Basta! Basta! - exclamou o pequeno sacerdote francês, de mão erguida num gesto de protesto, porque havia vinte anos que vivia na China.
O professor calara-se. Mas, por detrás da tristeza' das suas pupilas cinzentas, ocultava-se uma visão de horror. As senhoras empalideceram.