Fred Porlock.
Holmes deixou-se ficar sentado por alguns instantes, enrolando a carta entre os dedos e fitando o lume, com ar carrancudo.
- Afinal de contas talvez não passe de fantasia. É possível que ele esteja apenas a sentir a consciência culpada. Sabendo-se um traidor, pensou ver a acusação nos olhos do outro.
- O outro é o prof. Moriarty?
- Em pessoa. Quando alguém daquele bando se refere a ele, já se sabe de quem se trata. Para toda aquela gente- só existe um ele.
- Mas que pode ele fazer?
- Hum! Quando você tem contra si um dos maiores cérebros da Europa, apoiado por todas as forças do Mal, as possibilidades são infinitas. De qualquer forma, é evidente que o nosso amigo Porlock está assustadíssimo. Compare a letra do bilhete com a do sobrescrito endereçado, como ele próprio diz, antes da visite fatídica. Uma é clara e firme: a outra, quase ilegível.
- Por que motivo escreveu? Porque não se limitou a ficar calado?
- Pela simples razão de temer que eu procurasse pedir-lhe informações sobre o caso e colocando-o, provavelmente, em má situação.
- Não há dúvida - concordei, apanhando a mensagem cifrada e começando a examiná-la. - Perturba-nos pensar que um segredo importante se pode ocultar nesta tira de papel e que, desvendá-lo, transcende o poder humano.
Sherlock Holmes tinha afastado de si o pequeno-almoço intacto e acendera o cachimbo, companheiro das suas mais profundas meditações.
- Quem sabe! - exclamou recostando-se na cadeira e olhando fixamente o tecto.