- Nesse caso, como teve conhecimento disso?
O rosto de Mrs. Douglas iluminou-se com um sorriso.
- Acha possível que um marido consiga esconder um segredo por toda a vida, sem que sua mulher não o suspeite? Pressenti-o de várias maneiras. Pela recusa em falar de alguns episódios da sua vida na América; por certos cuidados que costumava tomar; por certas palavras que, às vezes, lhe escapavam; pelo seu modo de olhar para pessoas estranhas que encontrava de improviso.
» Fiquei certa da existência de inimigos poderosos, que lhe andavam no encalço e dos quais constantemente procurava precaver-se. Tinha tanta certeza disso que, durante anos, me apoquentava quando ele tardava em regressar a casa.
- Quais foram as palavras que lhe atraíram a atenção? - interrompeu Holmes.
- O Vale do Terror - respondeu Mrs. Douglas.- Era uma expressão que ele empregava sempre que o interrogava.
»- Estou no Vale do Terror e ainda não saí de lá.
»- Mas nunca conseguiremos sair do Vale do Terror? - perguntei-lhe uma vez, ao vê-lo mais preocupado do que de costume.
»- Algumas vezes, penso que jamais o deixaremos - respondeu-me.
- A senhora, naturalmente, perguntou-lhe o que significava esse Vale do Terror?
- Sem dúvida, mas meu marido abanava a cabeça.
»- É uma desgraça o facto de um de nós ter sido atingido pela sua sombra. Praza a Deus que ela jamais te atinja a ti.
»Devia tratar-se de algum vale em que ele tivesse vivido e no qual lhe houvesse acontecido algo de espantoso. Não sei mais nada.
- E nunca se referiu a qualquer nome?
- Sim. Certa, vez, num delírio de febre, por ocasião de um acidente de caça, há três anos, pronunciou um nome que lhe vinha constantemente aos lábios, com cólera e horror: Mac Ginty, grão-mestre Mac Ginty.