A um canto encontrava-se um vulto isolado, de quem passaremos a ocupar-nos.
Tratava-se de um jovem forte, de altura média que ainda não atingira os trinta anos. Tinha grandes olhos cinzentos que piscavam por detrás dos óculos. Parecia ser sociável, possivelmente desejoso de criar amigos. Mas quem melhor o observasse notaria que o seu olhar irónico era também astuto e que o seu queixo firme e os lábios tensos indicavam ser um lutador obstinado, tanto para o bem, como para o mel. Era irlandês e tinha cabelos castanhos.
Depois de ter tentado, em vão, falar com o parceiro do lado, e recebido respostas secas, resignou-se a olhar, em silêncio, para a paisagem indistinta.
Pela vidraça ia entrevendo intermitentes fornalhas acesas, depósitos de carvão, torres de minas. Aqui e além, grupos de casas miseráveis começavam a iluminar-se. Por toda a parte se viam sinais da brutal luta pela vida desses trabalhadores rudes de epiderme enegrecida pela labuta mineira.
Por vezes, o jovem consultava uma carta volumosa em cujas margens fazia anotações. A certa altura, tirou um revólver da algibeira. Vendo esse gesto, o seu vizinho exclamou:
- Que é isso? Parece estar com más intenções!
- Por vezes, no local de onde venho, temos necessidade disto – respondeu o jovem, sorrindo.
- De onde vem?
- De Chicago.
- É desconhecido, nestas paragens?
- Sim.
- Pois talvez também tenha aqui necessidade dessa arma.
- Sim?
- Não ouviu o que tem acontecido por cá?
- Não ouvi coisa alguma de extraordinário.
- Ah! Pensei que já se soubesse por todo o país. Que veio cá fazer?
- Procuro trabalho.
- Está inscrito no Sindicato dos Trabalhadores?
- Certamente.