Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 12 / 177

»

- «O quê, amigo?

Por vida minha, o que quereis ao Índio?

Neste meu escaler dessa fazenda

Não levo a terra».

- «Tal fazenda é ela,

Que desse estofo a não vereis amiúde.»

- «Grão valor é o do escravo!»

- É meu amigo.»

- «Amigo! amigos tais trazeis ao reino!

Rico vindes da Índia.»

- «Rico!... certo:

De feridas ao menos...»

Suspendeu-se,

Corrido das palavras que soltara

Diante de tal gente: a cor do rosto

Claro lhe indica o pejo que envergonha

O homem honrado se indiscretos lábios

No calor da disputa lhe caíram

Em repreensível gabo de si próprio.

XII

No gesto do guerreiro se fixaram

Os olhos circunstantes; e o respeito

Que uma acção generosa inspira ao vulgo,

Por aqueles semblantes se pintava.

Mas o grosseiro mestre não se corre

Do feito descortês: e os sinais tantos

Da desaprovação geral o irritam.





Os capítulos deste livro