Rudas imprecações, que rudas soam
Como os calabres que reger costuma,
De novo os remos a vogar excitam.
D’alta amurada do galeão suspira
O desprezado escravo. - Um movimento
De involuntária cólera e despeito
Leva a mão do guerreiro malsofrido
Da espada ao punho. - Olhou-o e c’um sorriso
Que parece dizer: «Quem sobre as ondas
Vida de p’rigos vive, não enfia
Aos lampejos da espada» - só responde
O carrancudo mestre. - Nesses tempos,
Que heróicos chama o entusiasta ardente,
Bárbaros o filósofo, e que ao certo
Foram pasmosa mescla de virtudes
E atrocidades, - de honra e de crueza,
Era o sangue juiz de tais pendências
E ao defeito da lei supria a espada.
Bárbara usança!... porém nobre ao menos.
Hoje que hemos sofrido de covardes,
Sem pejo, que nos roube a prepotência
Dos tribunais as leis, das mãos a espada.