Ecce Homo - Cap. 3: Porque sou tão sagaz Pág. 24 / 115

A ninguém é dada liberdade de viver indiferentemente em qualquer parte; e àquele a quem incumbe uma grande tarefa, oferecem-se possibilidades de escolha muito limitadas. A influência climática sobre o metabolismo, sua inibição, sua aceleração, vai tão longe, que um erro na escolha do lugar e do clima, é bastante não só para tornar um homem desatento à sua tarefa, mas para lha esconder e até ocultar por completo. Nunca o vigor animal por si só será suficientemente grande, para atingir aquela exuberante liberdade de espírito pela qual alguns atingem plenamente aquilo de que só eles são capazes. Um desarranjo intestinal, por pequeno que seja, se toma carácter crónico, basta só por si para fazer de um génio um alemão; o clima alemão basta, por si só, para debilitar vísceras fortes, ainda mesmo quando predispostas ao heroísmo. O ritmo do metabolismo está em relação com a agilidade ou o embaraço dos pés do espírito; o próprio espírito nada mais é que uma forma deste metabolismo. Comparai os lugares onde há e houve homens de espírito, os lugares onde a graça, a subtileza, a malícia constituíam a alegria de viver, onde o génio se sentia necessariamente em sua casa todos eles se distinguem por uma atmosfera Seca. Paris, a Provença, Florença, Jerusalém, Atenas - estes nomes mostram uma coisa: que o génio tem por condição a atmosfera seca, o céu puro, ou seja um rápido metabolismo, a possibilidade de renovar sempre e dispor sempre de grande quantidade de energia.

Agora mesmo estou observando um caso em que um espírito invulgar e de feição livre, simplesmente por falta de agudeza de instinto em questão de clima, se converteu em azedo e mesquinho especialista. E eu próprio teria dado exemplo semelhante, desde que a doença não me tivesse na realidade forçado a raciocinar, e a reflectir sobre a razão.





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