O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 54 / 102

- Este bilhete é muito estranho - comentou Utterson, acrescentando bruscamente: - Por que razão não está fechado?

- O empregado da Maw ficou furioso, Sr. Utterson, e devolveu-mo como se fosse lixo - respondeu Poole.

- Tem a certeza de que é a letra do sr. doutor, não tem? - tornou o advogado.

- Assim me pareceu - respondeu o mordomo, bastante enfadado; e logo acrescentou, mudando o tom de voz: - Mas que importa a caligrafia? Eu próprio o vi.

- Viu-o? - repetiu o Sr. Utterson. - E então?

- É verdade! - confirmou Poole. - Foi assim: entrei de repente no anfiteatro, quando vinha do jardim. Aparentemente, tinha-se esgueirado do seu retiro para procurar a sua droga, ou lá o que fosse; a porta do gabinete estava aberta, e, ao fundo da sala, lá estava ele, a esgaravatar por entre os caixotes. Levantou a cabeça quando entrei, soltou uma espécie de grito e galgou as escadas, escondendo-se no gabinete. Não o vi durante mais do que um minuto, mas fiquei com os cabelos em pé. Pergunto-lhe, Sr. Utterson: se aquele era o meu patrão, porque usava uma máscara no rosto? Se aquele era o meu patrão, porque gritou como um rato e fugiu de mim? Servi-o durante tanto tempo. E agora...

O homem calou-se e passou a mão pelo rosto.

- Todas estas circunstâncias são muito estranhas - disse o Sr. Utterson -, mas creio que começo a ver tudo mais claro. O seu patrão, Poole, está totalmente dominado por uma daquelas doenças que torturam e deformam quem dela padece; daí, tanto quanto sei, a alteração da sua voz; daí, a máscara e o modo como evita os amigos; daí, a sua avidez de encontrar essa droga, através da qual a pobre alma retém a esperança de absoluta recuperação...





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