- Sr. Utterson - interveio o mordomo, readquirindo um semblante lívido -, aquilo não era o meu patrão, e essa é que é a verdade. O meu patrão - neste ponto, olhou em redor e começou a sussurrar - é um homem alto e bem constituído; e aquele mais parecia um anão.
Utterson tentou protestar.
- Meu senhor - bradou Poole -, pensa que não conheço o meu patrão, ao fim de vinte anos? Pensa que não sei a que altura chega com a cabeça na porta do gabinete, onde o via todas as manhãs da minha vida? Não, senhor, aquela coisa por detrás da máscara nunca foi o Dr. Jekyll... Só Deus sabe o que era, mas o Dr. Jekyll não podia ser; o que me diz o coração é que ali houve assassínio.
- Poole - ripostou o advogado -, se diz isso, tornar-se-á minha obrigação confirmá-lo. Por mais que deseje poupar os sentimentos do seu patrão, e por mais confuso que esteja com este bilhete, que parece ser a prova de que continua vivo, devo considerar que é meu dever arrombar aquela porta.
- Ora, Sr. Utterson, assim é que é falar! - exclamou o mordomo.
- E agora vem a segunda pergunta - retomou Utterson. - Quem o irá fazer?
- Ora essa! Eu e o senhor - foi a resposta entusiasta.
- Isso é muito bem dito - replicou o advogado -, e, seja lá o que daí resultar, tudo farei para que não seja prejudicado.