O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 6 / 102

Nunca tinha visto um círculo de rostos tão cheios de ódio; e, no meio, lá estava o homem com uma espécie de frieza altiva e sinistra - pelo que pude verificar, também estava assustado; no entanto, meu caro senhor, encarava a situação como se fosse o Diabo em pessoa. «Se decidiram fazer deste acidente um caso exemplar», disse ele, «estou, obviamente, de mãos atadas. Qualquer cavalheiro deseja evitar uma cena. Digam o vosso preço!» Pois bem, exigimos que entregasse cem libras à família da criança; teria, sem dúvida, preferido opor-se, mas havia em todos nós um tão forte sentimento de ameaça que o homem acabou por concordar. A questão seguinte era obter o dinheiro; e aonde pensa que ele nos levou? Nem mais nem menos do que ao local da porta. Sacou de uma chave, entrou e regressou com dez libras em ouro e um cheque do Banco Coutts, pagável ao portador e assinado com um nome que não posso mencionar - apesar de ser um dos pontos centrais da história - mas posso adiantar que era um nome bem conhecido e frequentemente citado pela imprensa. A quantia era avultada, mas a assinatura era bem mais valiosa, contanto que fosse genuína! Tomei a liberdade de esclarecer o cavalheiro que todo aquele assunto me parecia duvidoso e que, na vida real, um homem não entrava pela porta da cave de um prédio às quatro da manhã para sair de lá com um cheque de outro homem no valor de quase cem libras. Mas respondeu-me com total escárnio e à-vontade: «Fique descansado. Ficarei consigo até que os bancos abram e eu próprio descontarei o cheque».




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