As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 11: O Problema Final Pág. 272 / 274

Duas linhas de pegadas viam-se claramente ao longo do extremo do caminho, afastando-se de mim. Para aquele lado não havia saída. A poucas jardas do abismo, o chão estava todo revolvido e as sarças e os fetos que formavam a Fímbria do precipício estavam despedaçados e salpicados de lama. O rosto contraiu-se-me e espreitei, sentindo os borrifos da água cobrindo tudo ao meu redor. Entretanto, escurecera e agora só se podia ver, aqui e acolá, o brilho da humidade nas paredes negras e, lá muito em baixo, a cintilação da água que se despenhava. Gritei, mas apenas o tal mugido meio humano da cascata chegou aos meus ouvidos como resposta.

No entanto, estava destinado, apesar de tudo, a encontrar ainda uma última palavra de saudação do meu amigo e camarada. Junto do bastão de alpinista, apoiado sobre uma rocha que se projectava sobre a berma, algo brilhante chamou a atenção dos meus olhos. Aproximando-me, descobri que se tratava da cigarreira de prata que Holmes trazia sempre consigo. Apanhei-a, e um pequeno rectângulo de papel esvoaçou no solo. Desdobrei-o ansioso: eram três páginas arrancadas à sua agenda e dirigidas a mim. Mas eram também o espelho fiel do carácter de um homem que conseguia, no limiar do inferno, manter uma ordem de pensamento tão precisa e uma caligrafia tão firme e clara como se aquelas linhas tivessem sido escritas, placidamente, no seu escritório.

Meu caro Watson,

Se lhe escrevo estas poucas linhas, devo-o à cortesia de Mr. Moriarty, que, muito delicadamente, me espera para a discussão final das questões que existem entre nós. Deu-me um esboço dos métodos de que se utilizou para evitar a polícia inglesa e se manter informado de todos os nossos movimentos.





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