Cândido - Cap. 2: CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros Pág. 4 / 118

CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros

Expulso do paraíso terrestre, Cândido caminhou durante muito tempo, sem saber por onde, chorando, erguendo os olhos ao céu, voltando-os muitas vezes para o mais belo dos castelos, que encerrava nos seus muros a mais bela das baronesazinhas. Dormiu, sem cear, no meio dos campos, entre dois regos. A neve tombava em grandes flocos. Cândido, transido de frio, arrastou-se no dia seguinte para a cidade vizinha de Waldberghoff-trarbk-dikdorff, sem dinheiro, morto de fome e de cansaço. Parou tristemente à porta de uma taberna.

Dois homens vestidos de azul repararam nele e um deles disse:

- Camarada, ali está um jovem muito bem feito e que deve ter a estatura requerida.

Dirigiram-se para Cândido e convidaram-no polidamente para almoçar.

- Senhores - disse-lhes Cândido com uma modéstia encantadora -, dais-me uma grande honra, mas não tenho dinheiro para pagar a minha parte.

- Oh, senhor! - disse-lhe um dos azuis -, as pessoas com a vossa figura e o vosso mérito nunca pagam nada. Não tendes cinco pés e cinco polegadas de altura?

- Sim, senhores, é essa a minha medida - respondeu ele com uma reverência.

- Ora então, senhor, sentai-vos à nossa mesa. Não só pagaremos a vossa despesa, como não consentiremos que uma pessoa como vós ande sem vintém. Os homens só foram criados para se socorrerem uns aos outros.

- Tendes razão - respondeu Cândido -; é o que o Sr. Pangloss me disse sempre, e eu bem vejo que tudo acontece pelo melhor.

Pedem-lhe que aceite alguns escudos2; ele recebe-os e quer passar um recibo. Não lho consentem e sentam-se à mesa.

- Amais alguém com ternura? - perguntaram-lhe.

- Oh, sim! - respondeu ele -, amo apaixonadamente a menina Cunegundes.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113