Cândido - Cap. 24: CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée Pág. 90 / 118

O frade parecia fresco, robusto, vigoroso. Tinha os olhos brilhantes, ar severo, expressão altiva e porte orgulhoso. A rapariga era muito bonita e cantava. Olhava amorosamente para o seu frade e de vez em quando beliscava-lhe as faces rechonchudas.

-Tendes de confessar que, pelo menos, estas criaturas - observou Cândido a Martin - são felizes. Até agora, só encontrei infelizes em toda a terra habitada, excepto no Eldorado. Aposto, porém, que esta rapariga e este frade são pessoas felicíssimas.

- Aposto que não - disse Martin.

- Basta convidá-los para jantar - disse Cândido -, e vereis que não me engano.

E logo os aborda, os cumprimenta e os convida a comer, na sua hospedaria, macarrão, perdizes da Lombardia, ovos de esturjão, e a beber vinho de Montepulciano, lacrima-christi, Samos e Chipre. A rapariga corou, mas o teatino aceitou o convite e ela seguiu-o, olhando Cândido com um olhar de surpresa e confusão, obscurecido pelas lágrimas. Mal ela entrou nos aposentos de Cândido, disse-lhe:

- O quê? Então o Sr. Cândido já não conhece a Paquette? Ao ouvir estas palavras, Cândido, que até aí mal tinha olhado para ela, pois só pensava em Cunegundes, respondeu-lhe:

- Minha pobre filha, sois vós a rapariga que pôs o Dr. Pangloss no lindo estado em que eu o encontrei?

- Ai, meu senhor, sou eu própria - disse Paquette. - Vejo que sabeis tudo. Eu soube também das desgraças terríveis que aconteceram a toda a família da Srª. Baronesa e à bela Cunegundes. Juro-vos que o meu destino não foi menos infeliz.

«Eu era uma inocente quando me conhecestes. Um franciscano, que era meu confessor, seduziu-me facilmente e as consequências foram desastrosas. Fui obrigada a sair do castelo algum tempo depois de o Sr.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113