Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 1 / 177

CANTO PRIMEIRO

Esta é a ditosa pátria minha amada,

À qual se o céu me dá que eu sem perigo

Torne com esta empresa já acabada.

Acabe-se esta luz ali comigo.

Lusíadas

I

Saudade! gosto amargo de infelizes,

Delicioso pungir de acerbo espinho,

Que me estás repassando o íntimo peito

Com dor que os seios d’alma dilacera,

- Mas dor que tem prazeres - Saudade!

Misterioso númen, que aviventas

Corações que estalaram, e gotejam

Não já sangue de vida, mas delgado

Soro de estanques lágrimas - Saudade!

Mavioso nome que tão meigo soas

Nos lusitanos lábios, não sabido

Das orgulhosas bocas dos Sicambros

Destas alheias terras - Oh Saudade!

Mágico númen que transportas a alma

Do amigo ausente ao solitário amigo,

Do vago amante à amada





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