O Garimpeiro - Cap. 13: XIII – OS VIZINHOS Pág. 102 / 147

- Estava rezando, sinhazinha? faz bem; o rezar alivia muito o coração da gente, quando está aflito.

- Estava, sim, Joana; o que me queres?

- Aqui está, disse a escrava apresentando-lhe um bilhete.

Pelo sobrescrito Lúcia logo conheceu que era de Elias. O coração pulou-lhe de alegria; ainda uma vez voltou a Deus seu pensamento agradecido. Sem demora abriu e leu o bilhete. Mas logo à primeira linha sua fronte se anuviou e o brilho de seus olhos se empanou de lágrimas. O bilhete dizia assim:

“Adeus, Lúcia! adeus para sempre! foste bastantemente leviana para me desprezares por um aventureiro desconhecido, só porque tem algum dinheiro e uma bela aparência. Praza ao céu que bem cedo não te arrependas, e que não venha a ser ele mesmo o algoz que me vingará de tua ingratidão! Vou para bem longe procurar esquecer-me de ti; não sei se o conseguirei. Quando esta receberes, já estarei mui longe daqui. Adeus! esquece-te também de mim.”

Lúcia já esperava que naquela carta não poderiam vir senão queixas e exprobrações. Elias ignorava as circunstâncias fatais que a tinham forçado a dar o – sim – a Leonel; tinha pois sobeja razão para acusa-la e queixar-se amargamente. Mas aquela partida repentina, aquela amarga despedida para todo o sempre, lhe dilaceravam o coração. Ah! nunca mais vê-lo, nunca mais poder-se justificar para com ele, ela, inocente vítima, que ia imolar-se em um sacrifício, que a mão de Deus acabava de afastar de cima de sua cabeça, ser condenada a viver odiada e desprezada pelo ente a quem mais amava no mundo! Este pensamento continuamente a atormentava, e não podia perdoar a Elias a precipitada sofreguidão com que a condenava, e se animava a abandona-la para sempre, sem ter-lhe ouvido uma palavra, agora que o destino parecia querer abrir-lhe de novo o caminho da esperança.





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