É íntima disposição do meu carácter ser afectuoso e benévolo para com toda a gente - tenho o raro direito de não estabelecer diferenças, o que não me impede, aliás, de ter os olhos abertos. Não estabeleço excepções, muito menos com os amigos. Ao fim e ao cabo, espero não se tenha feito sentir diminuição nas provas de humanidade que lhes tenho dado. É uma das cinco ou seis coisas de que sempre fiz ponto de honra. Apesar disso, quase não recebi uma carta nestes últimos anos Sem a impressão de que era objecto de uma atitude cínica: cinismo maior na benevolência que mostram para comigo do que no ódio sob as suas várias formas... Cara a cara o digo a cada um dos meus amigos: nenhum supôs valer a pena o estudo de qualquer das minhas obras. Todos os sinais são claros: nem sequer sabem do que elas tratam. E quanto ao Zaratustra, qual desses amigos viu nele mais que presunção absurda, felizmente sem consequência?...
Dez anos já: e ninguém se julgou na Alemanha no dever de defender o meu nome contra o silêncio absurdo de que me rodearam; foi um estrangeiro, um dinamarquês, quem primeiro teve perspicácia e valor suficiente para se levantar contra os meus pretensos amigos... Em que Universidade alemã seria hoje possível um curso sobre a minha filosofia, como fez na última Primavera o Dr.