Ecce Homo - Cap. 3: Porque sou tão sagaz Pág. 23 / 115

decidi libertar-me firmemente de toda a espécie de bebida espirituosa; adversário por excelência do vegetarianismo como foi Ricardo Wagner, que me converteu nunca supondo bastante o rigor com que aconselho a todos os intelectuais a absoluta abstenção do álcool. A água basta... tenho especial preferência pelos lugares onde se oferece a possibilidade de acesso a mananciais (Nice, 'I'uris, Sils); trago sempre comigo um copo. «In vino veritas», parece que também neste ponto estou em oposição com o mundo inteiro quanto ao conceito de verdade: - para mim, «o espírito é levado sobre as águas»...

Ainda um par de observações tiradas da minha moral. Um alimento forte digere-se com mais facilidade do que um alimento demasiado leve. A primeira condição para a boa digestão é que o estômago entre totalmente em actividade. Devem respeitar-se as dimensões do nosso estômago - e por esta razão não são aconselháveis aquelas comidas indigestas que se vêem na table d'hôte, e que chamo «sacrifícios absurdos».

Nada de refeições intermediárias, nada de café; o café ensombra-nos o ânimo. O chá só é bom pela manhã. Pouco chá, mas forte; o chá fraco não convém, dá-nos má disposição o dia inteiro. Cada coisa tem aqui sua medida, que oscila entre limites estritos e difíceis de precisar. Num clima muito excitante não é recomendável começar o dia com chá; devemos, uma hora antes, mandar fazer uma chávena de cacau espesso.

Estar o menos possível sentado; não confiar em ideia alguma que não tenha surgido ao ar livre e quando caminhamos, em nenhuma ideia na qual os músculos não tenham festiva parte. Os preconceitos nascem dos intestinos. A sedentariedade - já uma vez o disse - é o autêntico pecado contra o Espírito Santo.

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Liga-se estreitamente com o problema da alimentação o problema do lugar e do clima.





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