Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Porque sou tão sagaz

Página 22
Se, além disso, tivermos em conta a necessidade que sentem os velhos alemães, e não só os velhos, compreender-se-á melhor ainda a origem do espírito alemão - que provém de desarranjos intestinais... O espírito alemão é uma indigestão, nada digno de si.

Pelo seu lado, a dieta inglesa que, em comparação com a alemã, e mesmo com a francesa, é uma espécie de «regresso à natureza», ou seja ao canibalismo, resulta profundamente contrária aos meus instintos; parece que dá ao espírito pés pesados - pés de mulheres inglesas... A melhor cozinha é a do Piemonte.

As bebidas alcoólicas são-me prejudiciais; um copo de vinho ou de cerveja num só dia basta para tornar-me a vida um «vale de lágrimas» - Em Munique vivem os meus antípodas, Posto que o tenha aprendido demasiado tarde, experimentei-o, no entanto, desde a infância. Pensava, quando rapaz, que o beber vinho, como o fumar eram no fundo expressões de vaidade juvenil que se convertiam mais tarde em maus hábitos. Porventura tem culpa deste juízo severo o mau vinho de Naumburg. Para admitir que o vinho dá alegria, deveria ser cristão, isto é, crer o para mim precisamente absurdo. Coisa estranha, enquanto as pequenas doses de álcool muito diluídas, me perturbam, torno-me quase um marinheiro se passo às doses fortes. Já em rapaz fazia disto vaidade. Escrever numa só vigília uma grande dissertação latina e passá-la a limpo, com o desejo de imitar a severidade e a concisão de Salústio, meu modelo, bebendo sobre o meu latim um copo de grande calibre, não estava de modo algum (quando eu era aluno da venerável Escola de Pforta) em contradição com a minha fisiologia, nem sequer com a de Salústio embora estivesse em contradição com a venerável Escola Pforta... Mais tarde, a meio da vida,

<< Página Anterior

pág. 22 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 22

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106