Auto da Barca do Inferno - Cap. 8: Parte VII Pág. 25 / 41

A mor cárrega que é:

essas moças que vendia:

Daquesta mercadoria

trago eu muita, bofé!

DIABO

Ora ponde aqui o pé…

BRÍSIDA

Hui! E eu vou pera o Paraíso!

DIABO

E quem te dixe a ti isso?

BRÍSIDA

Lá hei-de ir desta maré.

Eu sô ua mártela tal,

açoutes tenho levados

e tormentos soportados

que ninguém me foi igual.

Se fosse ò fogo infernal,

lá iria todo o mundo!

A estoutra barca, cá fundo

me vou, que é mais real.

Barqueiro mano, meu olhos,

prancha a Brísida Vaz!

ANJO

Eu não sei quem te cá traz…

BRÍSIDA

Peço-vo-lo de giolhos!

Cuidais que trago piolhos,

anjo de Deos, minha rosa?

Eu sô aquela preciosa

que dava as moças a molhos,

a que criava as meninas

pera os cónegos da Sé...

Passai-me, por vossa fé,

meu amor, minhas boninas,

olho de perlinhas finas!

E eu sou apostolada,

angelada a martelada,

e fiz cousas mui divinas.





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