O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 333 / 335

Havia um Deus que intimava os homens a confessarem os seus pecados à terra, assim como ao céu. Nada o poderia lavar, enquanto não revelasse o seu pecado. O seu pecado? Encolheu os ombros. A morte de Basil Hallward parecia-lhe coisa insignificante. Pensava na Hetty Merton. Era um espelho injusto, esse espelho da alma em que se estava mirando. Curiosidade? Hipocrisia? Na sua renúncia nada mais houvera do que isso? Sim, alguma coisa mais houvera. Pelo menos assim o pensava. Mas quem o poderia dizer?.. Não. Nada mais houvera. Poupara-a por vaidade. Usara por hipocrisia a máscara da bondade. Tentara por curiosidade a auto-renúncia. Reconhecia agora tudo isso.

Mas esse assassínio... havia de o trazer sempre agrilhoado à sua vida? Havia de andar sempre vergado sob o peso do seu passado? Devia realmente confessar? Nunca! Contra ele apenas restava um pequeno indício: era o retrato. Destrui-lo-ia. Porque o conservara tanto tempo? Outrora sentia prazer em vê-lo mudar e envelhecer. Ultimamente, porém, já não sentia prazer algum. Conservava-o desperto de noite. Quando se ausentava, andava cheio de terror, na ideia de que outros olhos o vissem. Impregnara de melancolia todas as suas paixões.





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