Os Pobres - Cap. 7: VI - Filosofia do Gabiru! Pág. 50 / 158

Ela é inalterável.

O homem prende-se com muitas coisas inúteis: a riqueza, a ambição, interesses mesquinhos: vive emaranhado numa teia. De forma que não tem tempo de ver, nem de ouvir, nem de se conhecer. Quantas criaturas existem que nunca olharam para o céu? A natureza, árvores, montes, rios, esse pélago que entrevejo do meu quarto deixa-os indiferentes; as horas de preguiça e sonho deixam-nos indiferentes. Nunca tiveram tempo para amar as coisas simples e grandes da vida. O que é eterno não no viveram. Por mim antes quero comer pão e cismar, deixar correr as minhas ideias como um regato corre – até onde tem água. Alguns morrem sem terem reparado que existiram.

E por isso que eu corto sempre com tudo que me não deixa sonhar – e que quando encontro razões para acabar com um amigo tenho um suspiro de alívio.

Habituar-se a gente a viver com ideias simples é como habituar-se a andar com fatos velhos e rotos.

indigna os outros. De forma que tem de se viver arredado.

A morte aterra-me pouco. Porquê? Porque só penso na morte como numa divida distante. Fica muito longe ainda.

Há horas, porém, à noite, de súbito, em que, sem ligação, essa ideia rapidamente me toma e abala até às mais recônditas fibras. E sufoco aterrado.

Com que facilidade se matam até os entes mais queridos!... Quantas vezes me surpreendo a assassinar ou a desejar a morte – é a mesma coisa, com este acréscimo, a cobardia – de pessoas que sofreram por mim! Por a menor causa, por o mais leve transtorno, o primeiro pensamento é este:

– Se ele morresse...

É claro que protestas logo. Protesta o teu coração, a tua educação, os teus hábitos e até a tua hipocrisia.

Mas se deixares trabalhar a imaginação à vontade, sem peias, é uma hecatombe – por futilidades.





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