II - O Gebo Heis-de tê-lo encontrado, esse velho gordo, de cabelos brancos estacados e um ar de aflição que faz riso e piedade. Chora, depois caminha esbaforido. Parece que vai gritar, de cabelos brancos estacados, e, de súbito, baixinho, pede-vos esmola. Tem um riso de humilhado e o aspecto duma bola de sebo de cabelos brancos estacados. É o Gebo. É gebo por ser pícaro e roto e por a desgraça o ter calcado aos pés até o tornar ridículo.
Triste existência sem ódio e sem gritos. A vida não na entende e recebe cada empurrão com o ar espantado e aflito de quem não compreende. Que mal fizera? que mal fizera? Pois a desgraça faz rir? o sofrimento faz rir?
E em torno as bocas escancaram-se, ao verem-no gordo, pedinchão e grotesco.
Há seres que nascem com esta sina – amargar a vida. Tudo lhe corre torto, até as coisas mais simples, as coisas que para os outros nem sequer existem. Em que hora aziaga encontrou a má sorte que nunca mais o deixou? A desgraça escarrancha-se no pescoço de certos homens. E é para sempre, para toda a vida! Nunca mais os larga. Viera a quebra, aflições ainda mais negras que o coração dos outros. Enganavam-no, com a alegria de o verem rebaixado e perdido, empurrão daqui, empurrão dali, aos tombos por esse mundo. E ele punha-se a olhar para a desgraça, atarantado e estúpido. Que mal fizera para sofrer?
E mesmo a chorar, a sua máscara, de cabelos brancos estacados, fazia rir.
Era destas criaturas a quem um montão de desgraças torna ainda mais ridículas: a ruína, a miséria, e a fome. Enlameado pela vida fora, resignado e chorão, ele aí vai...
– O Gebo!
E todos se riam ao vê-lo chorar de aflição. Diziam uns: – Que não fosse tolo! – E os pobres, a quem tanta vez valera, gostavam de o ver calcado como a terra dos caminhos.