Os Pobres - Cap. 10: IX - Filosofia do Gabiru Pág. 65 / 158

.. Nesse dia tudo terá voz.

Na verdade não haverá fonte, árvore, bicho por mais esquecido, pedra por mais ignorada, que não tenha voz e não faça a sua confissão.

A educação moderna, ao contrário, tende para isto:

para que todos falem no universo da mesma forma.

Nasce connosco o destino. Não o cumprir, seja qual for, é ser desgraçado.

Cada criatura que nasceu ontem há quantos séculos anda a ser gerada? Sabei-lo...

Não contrariem a vida. Nós somos uma torrente, que Deus criou para um fim... Assim nascerão criaturas que incarnarão o Mal, dirás... Pois que o mal tenha também a sua boca e que fale sem gaguejar.

Se a natureza cria monstros, é que eles são necessários, como certas pústulas que purificam.

Nunca os tigres afinal venceram.

E de que te serve andares mascarado?...

O homem tem em si partículas de tudo o que no universo existe: metais, pedras, etc. É um universo reduzido. Conforme nele predominam determinadas moléculas, assim odeia ou ama.

Quando é que a química será tão grande, que possa fazer esta análise?...

Há pessoas que nunca nos fizeram mal e a quem odiamos. Nunca? quem sabe?... Se há um infinito que tu vives, se tu exististe sempre e és eterno.

O que é a piedade sincera, abaladora, interior? Uma reminiscência.

Fujamos da terra, dizem-te. Não, bem preso à terra, a terra subtilizada que tu és, a terra tua mãe. Essência da terra, trabalho insano do seu ventre durante séculos e séculos, homem não a renegues! Ama-a, ama a vida. Tu és talvez o sonho da terra. Ela pôs em ti toda a sua emoção, toda a sua maternidade, toda a sua dor e também tudo que tinha de imaterial; deu-te o sonho. Sê bom, se ela to ordena, sê mau se ela o quer.

No mundo correm e entrechocam-se grandes rios de moléculas – que são rios de ódio, outros que são rios de amor, outros que são a amargura, o riso, o sonho.





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