Subitamente, e ao mesmo tempo, a ebulição parou e o composto ganhou uma cor purpúrea escura, que voltou a desvanecer-se, mais lentamente, num verde aquoso. O meu visitante, que observara estas metamorfoses com um olhar atento, sorriu, pousou o copo em cima da mesa e olhou para mim com um ar escrutinador.
- E agora - anunciou - vamos ao resto. Será o senhor uma pessoa sensata? Estará disposto a ser conduzido? Aceitará que eu pegue neste copo e saia da sua casa sem que troquemos mais palavras? Ou será que a avidez da curiosidade exerce um domínio demasiado grande sobre o senhor? Pense bem antes de responder, pois apenas será feita a sua vontade. De acordo com a sua decisão, poderá ficar tal como estava anteriormente, nem mais rico nem mais sábio a menos que o sentido de serviço prestado a um homem em estado de agonia mortal possa valer como uma espécie de enriquecimento da alma. Ou então, se assim preferir, uma nova região do conhecimento e novas avenidas rumo à fama e ao poder abrir-se-ão para o senhor, aqui, nesta sala, no mesmo instante; e a sua visão será abalada por um prodígio que fará vacilar a descrença em Satanás.
- O senhor fala por enigmas - respondi, revelando uma calma que estava longe de possuir - e, porventura, não se admirará que o ouça sem lhe dar grande crédito. Mas já fui demasiado longe nos meus inexplicáveis serviços para me deter sem conhecer o fim.