Contos de Mistério - Cap. 1: O ANEL DE THOTH Pág. 2 / 167

A preparação deste magnum opus obrigou-o a frequentes visitas às maravilhosas colecções egípcias do Louvre e a última destas visitas, que remonta ao Outono passado, pô-lo em presença de uma aventura estranha que vale a pena ser relatada.

Os comboios andavam atrasados devido a uma travessia brumosa e má, e o estudante-viajante chegara a Paris, cansado, enervado, em más condições para trabalhar. Mal chegou ao Hotel de France, na Rua Laffitte, estendeu-se completamente vestido num canapé mas, como não conseguia dormir, decidiu, apesar da fadiga, dirigir-se para o Louvre a fim de elucidar um ponto que permanecia obscuro no seu espírito; contava regressar a Londres nessa mesma noite, via Dieppe. Envolvido num bom sobretudo, atravessou debaixo de uma chuva fina o Bulevar dos Italianos e seguiu ao longo da Avenida da Ópera; transposto o limiar do Louvre, encontrou-se em terra conhecida e dirigiu-se prestam ente para a colecção de papiros que desejava consultar.

Mesmo os mais calorosos admiradores de John Vansittart Smith não o podiam achar um homem belo. O enorme nariz adunco em bico de pássaro e o queixo proeminente revelavam a qualquer um a clareza e a decisão que lhe caracterizavam a inteligência. Tinha a cabeça inclinada para o lado; e como um pássaro que atira para o ar gritos estridentes, esmaltava a sua conversa com objecções e réplicas secas, colhidas à esquina do bom senso e da ciência. Se se tivesse contemplado nas montras das lojas, com a gola levantada até às orelhas, teria podido convencer-se do seu ar estranho e, no entanto, caiu das nuvens ao ouvir uma voz inglesa exclamar quando o viu passar:

- Mas que ser extraordinário!

O estudante nutria uma certa vaidade, aquela que consiste em desprezar o juízo e a opinião do público.





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