Contentou-se em morder os lábios e em olhar fixamente para o seu rolo de papiro, ao mesmo tempo que o coração se enchia de amargura contra aquela horda de turistas ingleses. - Sim - respondeu uma outra voz -, é de facto muito bizarro.
- Dir-se-ia na verdade - prosseguiu a primeira -, que a contemplação constante das múmias mumificou este estranho indivíduo.
- Tem com efeito um ar que mais parece um egípcio.
John Vansittart Smith rodopiou nos calcanhares, decidido a apostrofar os seus compatriotas com algumas invectivas vergastantes, quando para seu enorme espanto, e devo acrescentar para sua inteira satisfação, viu aqueles dois jovens voltarem-lhe as costas, e observarem um dos guardas do Louvre que puxava o lustro aos cobres na outra extremidade da sala.
- Carter deve estar à nossa espera no Palais-Royal observou um dos turistas enquanto consultava o relógio.
E afastaram-se, deixando o estudante entregue às suas pesquisas.
«Pergunto a mim mesmo ao que é que estes fanfarrões chamam um ar egípcio», pensou John Vansittart Smith; depois mudou um pouco de lugar para ver o guarda. Quando os seus olhos se detiveram naquele rosto, estremeceu. Encontrava bem nele o tipo que os seus estudos lhe haviam tornado familiar. As feições de mármore, a testa larga, o queixo bem arredondado, a tez cinzenta eram idênticos aos das numerosas estátuas, das múmias e dos quadros que guarneciam aquela sala. A coisa era indiscutível: este homem devia ser egípcio, a estreiteza dos ombros e das ancas teria bastado para prová-lo.
John Vansittart Smith avançou para o empregado com o intuito de dirigir-lhe a palavra, mas como carecia de facilidade de elocução, teve dificuldade em encontrar o meio-termo entre a rudeza do superior e a afabilidade do igual.