O silêncio profundo era impressionante; nem um ruído, nem um murmúrio tanto no interior como no exterior. Encontrava-se assim sozinho no meio dos mortos de uma civilização desaparecida, a centenas de léguas do mundo exterior do século XIX. Nem um objecto naquela sala, nem uma relíquia trazida de Tebas a grandiosa, de Luxor a magnífica, dos templos majestosos de Heliópolis, que não tivesse resistido aos ataques de quatro mil anos! Ao contemplar aquelas figuras silenciosas, o estudante pensou nos autores de tais maravilhas, adormecidas na noite dos tempos, e cuja lembrança permanece tão imperecível como as suas obras: caiu numa doce modorra e pensou com respeito naqueles trabalhadores modestos cuja existência laboriosa envergonhava a sua juventude de estudante ocioso.
Apoiado descontraidamente nas costas da cadeira, deixara os olhos errarem pelas múmias alinhadas, que um feixe de luz prateada iluminava, quando a sua atenção foi atraída pelo clarão baço de uma lanterna, que cintilava a certa distância.
John Vansittart Smith endireitou-se, desta vez com os nervos tensos. A lanterna avançava na sua direcção, por vezes detendo-se, depois acercando-se lentamente, transportada por um homem que parecia deslizar pelo soalho brilhante; dir-se-ia mais uma sombra do que um ser humano. A ideia de um roubo cruzou o espírito do inglês que se aninhou no seu desvão. A luz tinha mudado de local; achava-se agora na sala contígua, sempre sem o mínimo ruído.