Cândido - Cap. 28: CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. Pág. 110 / 118

Demorei-me tanto nesta operação que o imã se encolerizou e, vendo que eu era cristão, gritou por socorro. Fui preso e levaram-me para a casa do cádi, que ordenou que me dessem cem espadeiradas na planta dos pés e me enviou para as galés. Fui posto a ferros precisamente na mesma galera que o Sr. Barão e agrilhoado à mesma bancada. Havia nesta galera quatro jovens de Marselha, cinco padres napolitanos e dois monges de Corfu, que nos disseram que todos os dias aconteciam aventuras idênticas. O Sr. Barão pretendia que haviam sido mais severos para com ele do que para comigo, mas eu pensava e penso que era mais grave ser apanhado com um icoglã do que repor um ramo de flores no peito de uma jovem. Discutíamos incessantemente, o que nos custava vinte vergalhadas por dia, quando o encadeamento dos acontecimentos deste universo vos conduziu à nossa galera e nos resgatastes.

- E meu caro Pangloss - disse-lhe Cândido -, quando vos enforcaram, dissecaram, açoitaram e forçaram a remar numa galera, sempre vos pareceu que este era o melhor dos mundos possíveis?

- Sim, mantenho a minha opinião - respondeu Pangloss -, porque, enfim, sou filósofo e não seria decente desdizer-me; além disso, Leibniz não podia deixar de ter razão quando afirmou que a harmonia preestabelecida era a coisa mais bela do mundo, a par da plenitude e da matéria subtil.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113