Cândido - Cap. 21: CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam Pág. 74 / 118

-A propósito - perguntou Cândido -, pensais que a Terra tenha sido primitivamente um mar, como se afirma naquele grosso calhamaço que pertence ao capitão do navio?

- Creio tanto nisso como nas fantasias que nos têm impingido de há uns tempos para cá.

- Mas com que fim foi então criado o mundo? - inquiriu Cândido.

- Para nos irritar - respondeu Martin.

- Não vos surpreendeu - continuou Cândido - o amor que aquelas duas raparigas do país dos Orelhões tinham aos dois macacos, cuja aventura vos contei?

- Absolutamente nada - disse Martin. - Não vejo que tal paixão tenha algo de extraordinário.

- Acreditais - continuou Cândido - que os homens sempre se tenham massacrado e tenham sido desde o princípio o que são hoje: mentirosos, velhacos, pérfidos, ingratos, brigões, fracos, ladrões, cobardes, invejosos, glutões, bêbados, avaros, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, devassos, fanáticos, hipócritas e tolos?

-Acreditais que os gaviões sempre tenham comido os pombos que se lhes deparam? - respondeu Martin.

- Sem dúvida alguma - disse Cândido.

- Ora bem - disse Martin -, se os gaviões sempre tiveram o mesmo carácter, porque pensareis que os homens tenham alterado o seu?

- Oh! - disse Cândido -, há muita diferença, porque o livre-arbítrio...

E assim discorrendo chegaram a Bordéus.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113