Camões - Cap. 7: CANTO SÉTIMO Pág. 114 / 177

IV

Ao pé dessas janelas recortadas,

Em que inda o tempo conservou resquícios

Dos já pintados vidros, fresta escassa

Dá luz medonha à escuridão sombria

De fétidas masmorras inda inteiras,

Mais duradoiras que os salões dourados:

Como se a idade, que destruiu palácios,

Memórias de prazeres, luxos, pompas,

Catasse mais respeito a tais vestígios

De atrocidade e crimes, - e escrevesse,

Ao passar, com a fouce enferrujada,

No limiar dessas portas: Escarmento

Às gerações porvir. - Doía-me alma

Na solidão das ruínas; e a lembranças

Mais gratas me fugia o pensamento,

Para os vergéis da pátria esvoaçando.

V

Oh! nobres paços da risonha Sintra

Não sobre a roca erguidos, mas poisados

Na planície tranquila, - que memórias

Não estais recordando saudosas

Dos bons tempos de Lísia! Nem seteiras

Nem torreões nem barbacãs nem fossos.





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