Camões - Cap. 7: CANTO SÉTIMO Pág. 122 / 177

XVI

Já surgindo na treda Moçambique,

Ao fementido mouro pune o Gama

Da pérfida malícia. Eis lá Mombaça

Onde falsos Sinons a engano o levam,

Cru exício lhe estava preparando,

Por artes do que sempre a mocidade

Tem no rosto perpétua, e foi nascido

De duas mães. Tu, Ericina linda,

Que a assinalada gente andas guardando,

Tu, do velho Nereu coas alvas filhas,

Pondo ao duro madeiro o brando peito,

Da cilada os salvaste. - Aqui do vate

O stilo se embrandece, spira o canto

Suavíssimos perfumes de Amatunta;

Rosas de Pafos e jasmins de Gnido

A namorada lira lhe coroam,

Quando a bela Dione à sexta esfera

Segue enlevado. - Está pelos semblantes

Dos que o escutam debuxado o gosto

Que o deleitoso quadro acende n’alma.

O mimo dos pincéis tão delicados,

Não lho deu natureza, que o não tinha;

Deu-lho amor de seus cofres escondidos,

Que nem a Ticiano tão querido,

Tão grão privado jamais abrira.





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