Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 13 / 177

Rudas imprecações, que rudas soam

Como os calabres que reger costuma,

De novo os remos a vogar excitam.

D’alta amurada do galeão suspira

O desprezado escravo. - Um movimento

De involuntária cólera e despeito

Leva a mão do guerreiro malsofrido

Da espada ao punho. - Olhou-o e c’um sorriso

Que parece dizer: «Quem sobre as ondas

Vida de p’rigos vive, não enfia

Aos lampejos da espada» - só responde

O carrancudo mestre. - Nesses tempos,

Que heróicos chama o entusiasta ardente,

Bárbaros o filósofo, e que ao certo

Foram pasmosa mescla de virtudes

E atrocidades, - de honra e de crueza,

Era o sangue juiz de tais pendências

E ao defeito da lei supria a espada.

Bárbara usança!... porém nobre ao menos.

Hoje que hemos sofrido de covardes,

Sem pejo, que nos roube a prepotência

Dos tribunais as leis, das mãos a espada.





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