Camões - Cap. 9: CANTO NONO Pág. 154 / 177

Despertou-o a frieza inesperada

Que no alto das montanhas vem coa noite.

Como no seio envolto de uma nuvem

Misteriosa se cuida; - olha d’em torno,

Nada vê, tudo encobre a névoa espessa;

Nada vê, mas distinta uma voz ouve:

- «Cumprido é o sonho, mas quebrando o encanto:

Ainda a viste, - única vez na terra!

Nunca mais a verás. O véu, qu’é dele?

E a trança que, ao sepulcro sonegada,

Prenda foi de ternura?»

- «Ei-la comigo,

Sempre comigo. Restituí-la à campa,

Quando à campa descer, a mim só cabe.

Mas quem de meus segredos sabe tanto?

Quem d’amor os mistérios e os da morte

Penetra assim? Do número dos vivos

És tu, ou do moimento há suscitado

Poder fatal as cinzas dos finados

Para me interrogar!»

- «Vivo eu, sou vivo:

Conhece-me, sou eu, teu inimigo,

Teu inimigo hei sido; e eterna a vida,

Se cruz, para tormento, os céus ma dessem.





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