Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 169 / 177

A noite era formosa,

Clara e brilhante a lua. Oh! que memórias

N’alma do vate, esse astro, a hora, o sítio

Não suscitam amargas? Perto passa

Daquela gelosia, aquela mesma

Donde os doces penhores, donde a carta

Recebera fatal. Quão demudada,

Quão diferente está do que já a vira,

Essa praia tão plácida e saudosa!

Um plátano frondoso que i crescia,

Em cujo liso tronco tantas vezes

Se encostou, aguardando a hora tardia,

- Prazo dado d’amor, que é tardo sempre!

Cuja sombra, em luar pouco propício

A amantes, o ocultou de agudas vistas

De curiosos profanos e inimigos...

Ai! seca jaz em terra, e despojada

De viço e folhas a árvore querida.

Tudo, tudo acabou, menos a mágoa,

Menos a saudade que o consome.

XIV

Sua pobre habitação os dous entraram;

E tristes horas, dias, meses passam

Arrastados e longos, - qual o tempo

Para infelizes anda - sem que a sorte

Mais ditosos os visse, ou a amizade

Menos unidos.





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