Camões - Cap. 2: CANTO SEGUNDO Pág. 37 / 177

convulsa mão, trémula a aperta;

E olhos, que desvairados a contemplam,

Parecem perguntar-lhe: - «Flor de morte,

Em que pálida frente hás tu pousado?»

Quem lhe há-de responder? Em breve a loisa

Se fechará, - como os ferrados cofres

Do avaro, onde nem lágrimas de aflitos,

Nem suspiros de tristes lhes aventam

Luz de esperança mínima. - Segui-lo,

Antes que o cerre a campa, esse ataúde

Em que talvez... Oh bárbara incerteza,

Terrível, cruelíssima! E terrível

A verdade será... Mas antes ela.

Corre ao sítio onde viu encaminhar-se

O funeral; o som das vozes segue,

Entra a capela escura. - Escuro é tudo;

Nem uma luz, nem um vivente. O baço,

Triste clarão da lâmpada que ardia

Longe no mor altar, só lá reflecte

Tanto de claridade quanto as trevas

Desse recinto fúnebre amostrasse.





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