Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 74 / 177

VII

«O astro novo, não visto d’outra gente

Antes que o luso nauta lho amostrasse,

Já no hemisfério oposto nos brilhava.

Víamos-lhe essa parte menos bela

Onde raras estrelas pasce a pólo

Ali, pesar de Juno e de seus zelos,

Vimos banhar nas águas de Neptuno

As inflamadas Ursas. Pelos topes

Dos mastos, e no horror da tempestade,

Claro avistámos a azulada chama

Do santo, vivo lume. Oh! recontar-vos

As maravilhas tantas, os prodígios

Que hei visto, longo fora; e conhecidas

Serão elas de vós que os largos mares,

Que as vastíssimas plagas descobertas

Pela nobre ardideza lusitana

Corrido haveis também. Destas paragens

Velas demos ao noto que soprava

Rijo, em vão, contra a força descontrada

Da impetuosa corrente. Ia uma noute

Na cortadora proa vigiando,

Quando atra cerração medonha e feia

Nos fecha o claro céu; amaina o vento,

E em tanta escuridão batendo as velas

Em podre calma, à pavorosa cena

Dobram tremendo horror.





Os capítulos deste livro