Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: X – A AFRONTA

Página 79
As mangas do vestido nimiamente curtas deixavam-lhe ver quase completamente nus os braços cheios, mas mimosamente torneados. Na cabeça trazia por único enfeite uma rosa natural. Porém no meio de toda aquela faceira, mas singela casquilhice, ou fosse por um singular acaso, ou de propósito, via-se-lhe no peito uma saudade roxa: era o símbolo de seu coração.

Com o mesmo fim de disfarçar seus íntimos pesares, Lúcia procurava abafa-los no meio do turbilhão, conversando, dançando e brincando.

Dobrado martírio para aquela nobre alma! Enquanto na casa do Major tudo era alegria e folguedo, luz e harmonia, sozinho e merencório, com os cotovelos fincados sobre o parapeito da ponte que comunicava as duas partes da povoação, achava-se um vulto, que com a cabeça entre as mãos olhava fixamente para o ribeirão, que logo abaixo da ponte se despenha em rugidoras catadupas. Nos cachões revoltos da torrente via a imagem das ideias que lhe turbilhonavam no cérebro, dos sentimentos tempestuosos que lhe empuxavam desencontrada e dolorosamente o coração. O amor, a raiva, o ciúme, a vergonha, a sede de vingança, ora lhe traziam aos lábios um sorriso infernal de desespero, ora espremiam-lhe dos olhos lágrimas de fel e de fogo. De quando em quando erguia a cabeça, olhava para o alto da encosta, onde se avistava a linda casinha do Major difundindo em borbotões, luzes e harmonias, risadas e festivas vozerias. Tornava a curvar-se sobre o parapeito, rangendo os dentes e arrancando os cabelos como um possesso; depois com os olhos turvos namorava a torrente, que engrossada pelas chuvas dos dias precedentes roncava debaixo de seus pés. Num acesso de desespero ia precipitar-se; mas...

- Ainda não! - murmurou com voz cavernosa. É preciso vê-la ainda uma vez, uma só e morrer.

<< Página Anterior

pág. 79 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Garimpeiro
Páginas: 147
Página atual: 79

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I- A FAZENDA 1
II- A CAVALHADA 9
III- NA ROÇA 22
IV- O GARIMPO 35
V- O BAIANO 47
VI- A RECUSA 53
VII- O SACRIFÍCIO 59
VIII – ELIAS 64
IX – ALÉM DA QUEDA, O COICE 71
X – A AFRONTA 78
XI – DE MAL A PIOR 86
XII – MOEDEIRO FALSO 92
XIII – OS VIZINHOS 99
XIV – A LAVADEIRA 106
XV – ABNEGAÇÃO 119
XVI – O MORIBUNDO 128
XVII – A GRINALDA E O TÚMULO 137