O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 13 / 102

Sendo velhos amigos, desde os tempos da escola e do liceu, ambos se respeitavam mutuamente e a si próprios; além disso, cada um deles apreciava genuinamente a companhia do outro, algo que nem sempre acontece.

Depois de alguma conversa de circunstância, o advogado abordou o assunto que tanto o atormentava.

- Parece-me, Lanyon - disse -, que tanto eu como tu devemos ser os amigos mais antigos de Henry Jekyll.

- Quem me dera que os amigos fossem mais novos - gracejou o Dr. Lanyon. - Mas suponho que tens razão. E daí? Vejo-o muito pouco, actualmente.

- Sim? - replicou Utterson. - Pensava que tinham uma sociedade.

- Tivemos - corrigiu o médico. - Mas há mais de dez anos que Henry Jekyll se tornou demasiado caprichoso, para o meu gosto. Começou a ficar mentalmente perturbado; e, apesar de continuar, naturalmente, a interessar-me por ele, em nome da nossa velha amizade, há muito tempo que não o vejo.

E, com um súbito rubor nas faces, acrescentou:

- Todos aqueles disparates, sem qualquer fundamento científico, são capazes de afastar os amigos mais inseparáveis.

Este desabafo acalmou um pouco o Sr. Utterson, que pensou, com algum alívio: «Afinal, só divergiram nalguma questão científica»; e, sendo um homem para quem a ciência não era fonte de preocupações (a não ser em matéria de escrituras), ainda concluiu: «Não deve ter sido nada de grave!». Após conceder ao amigo alguns segundos para se recompor, abordou a questão que o levara ali.





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