As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 6: O Enigma de Reigate Pág. 142 / 274

Tenho o mais legítimo direito a metade das suas propriedades actuais e, se pudessem descobrir certo papel, que felizmente estava no cofre dos meus advogados, teriam invalidado com certeza a nossa acção.

- Aí está! - disse Holmes, sorrindo. - Foi uma tentativa perigosa e temerária, na qual procurei descobrir a influência do jovem Alec. Não tendo descoberto nada, tentaram desviar as suspeitas, fazendo que parecesse um furto vulgar, e para isso levaram tudo aquilo a que puderam deitar a mão.

Tudo isso está bastante claro, mas havia muita coisa que continuava obscura. O que queria acima de tudo era conseguir a parte da folha que faltava. Eu estava certo de que Alec a tinha arrancado da mão do morto, e quase certo de que ele a deveria ter colocado no bolso do roupão. Em que outro lugar a poderia ter metido? A única questão era saber se ainda lá estaria. Valia um esforço a sua descoberta. E para esse fim fomos todos à casa.

Os Cunningham juntaram-se a nós, como sem dúvida se lembram, do lado de fora da porta da cozinha. Era, portanto, da máxima importância que não se lembrassem da existência desse papel, pois logo o destruiriam. O inspector estava para lhes revelar o nosso interesse quando, pela casualidade mais feliz do mundo, sofri uma espécie de ataque e assim se desviou a conversa.

- Valha-me Deus! - exclamou o coronel, sorrindo. - O senhor quer dizer que toda a nossa simpatia foi desperdiçada e o seu ataque uma impostura!

- Falando como profissional, foi admiravelmente bem imitado - disse eu, olhando com espanto para aquele homem que sempre me confundia com qualquer nova faceta da sua astúcia.

- É uma arte muitas vezes útil - disse ele. - Quando me restabeleci, elaborei um plano, que talvez tivesse um pouco de ingenuidade, para levar o velho Cunningham a escrever a palavra «meia-noite», a fim de a comparar com a «meia-noite» do papel.





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