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Capítulo 8: Eneias em Apuros

Página 146

E continuou o rei Evandro:

— O seu antro tinha as portas sempre adornadas com cabeças ressequidas de vítimas humanas, às vezes horrendas na podridão. O solo era coalhado de ossos e o lugar cheirava a sangue por toda a parte. O pai desse monstro era Vulcano, que emprestava os fogos que Caco costumava vomitar de seu imenso ventre. Um dia por aqui aconteceu passar Hércules, recém-vindo da vitória sobre Gérion, aquele monstro com uma cabeça e um tórax, mas de ventre e pernas triplicados. O grande herói vinha tangendo diante de si um rico rebanho, despojos arrebatados ao monstro venado. Aqui parou para descansar, tendo ceado em minha casa. Caco, no entanto, a quem não faziam recuar os piores crimes, foi possuído de enorme cobiça pelas lindas reses de cor arroxeada e, aproveitando-se da calada da noite, veio aos meus estábulos onde os animais descansavam, arrebatando quatro dos melhores touros e igual número de vacas de beleza imaculada. Mas, para que as marcas dos cascos não revelassem o caminho para a sua cova, ele conduziu-os de costas, puxando-os pelas caudas e escondeu-os nas mais profundas gargantas da montanha. Esperava assim iludir o seu fortíssimo proprietário. No entanto, quando Hércules se preparava para reencetar a caminhada, o rebanho encheu o bosque com os seus mugidos. Uma das novilhos escondidas respondeu ao chamado do fundo recesso onde se achava. Enfurecido por ter sido ludibriado, Hércules pegou numa pesadíssima clava cheia de nós e, em cólera, subiu ao cume da montanha. Pela primeira vez, vimos Caco apavorado. O medo deu-lhes asas aos pés e ele, veloz como o vento, refugiou-se no interior da caverna onde baixou as correntes — forjadas por seu pai Vulcano — que sustinham o enorme rochedo, bloqueando inteiramente a entrada do covil. Chegou então Hércules, olhando aqui, buscando ali, perscrutando acolá, transportado de furor, com os dentes a tanger. Percorreu toda a montanha à cata de uma fenda ou de um ponto fraco do tecto pedregoso por onde pudesse penetrar na câmara sem sol do monstro. Três vezes tentou afastar o gigantesco rochedo com as suas poderosas forças, mas três vezes fracassou, sentando-se no vale, fatigado. Do dorso da caverna, erguia-se uma rocha aguçada, verdadeiro pináculo, que servia de morada às aves de rapina. Como dente de gigante, ela aprumava-se, meio inclinada na direcção do rio, para o lado esquerdo. Hércules, colocando-se do lado direito, agarrou-a com os seus braços de ferro e, forçando daqui para ali, conseguiu finalmente abalá-la, arrancando-a da base. Atirou-a então para baixo e a enorme pedra espatifou-se, com tremendo rumor que abalou os céus e espantou o próprio rio no seu leito.

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Capa do livro Eneida
Páginas: 235
Página atual: 146

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A Queda de Tróia 1
Partem os Troianos 20
Eneias Chega a Cartago 38
Eneias e Dido 57
Os Jogos Fúnebres 79
Eneias no Mundo das Sombras 102
Os Troianos Desembarcam na Itália 124
Eneias em Apuros 141
Os troianos são Cercados 157
A Assembleia dos Deuses 177
O Rei Latino Pede Paz 195
O Combate Final 215