Um rei como este,
Dai-lhes um rei como João segundo;
E esquecido o tenaz republicano
De Brutos e Catões, ajoelha ao ceptro.
- Este fez explorar d’aurora os berços
Com baldados trabalhos, - que essa dita
Ao feliz Manuel o céu guardava.
X
Então reconta o sonho misterioso
Do venerando Ganges, do rei
Indo Que ao ditoso monarca, ao romper d’alva
Em visão bem fadada apareceram.
Diz a intentada, perigosa empresa
Que ousou de cometer; trabalhos, riscos
Na longa e lassa via suportados:
Moçambique, a traidora, castigada
Para escarmento e pena; e o temeroso,
Namorado gigante em dura terra
Por seus atrevimentos convertido,
E, por dobradas mágoas, rodeado
De Tétis formosíssima que amava:
Tétis que já cuidou de ter nos braços
Louco d’amores, única, despida,
Quando se achou c’um árido rochedo
De hórrido mato e de espessura brava.