XIV
- «Se é crime» continuou «ter alma e vista,
Foi essa a única ofensa que lhe hei feito
Ao vingativo conde. Por má sorte,
Laços fatais de sangue lhe prendiam
De meus suspiros o adorado objecto.
O nascimento igual, a igual fortuna,
Tudo por mim, tudo por nós falava.
Cobiça empederniu seu duro peito:
E o soldado só de honra herdeiro rico
Que podia esperar? Seu vão orgulho
Se envileceu, de baixo, a perseguir-me.
XV
«Nada na corte obtive contrastado
Por tão forte inimigo, eu sem fortuna,
Sem arrimo, sem pai. - Como eu, perdido
Entre o obscuro tropel dos desvalidos
Que o sangue pela pátria hão barateado
Para perder à míngua o resto dele,
Meu pai, de pura mágoa e de despeito,
Fenecera em meus braços. - Só no mundo,
Que me restava? Perecer como ele,
Ou por um nobre feito despicar-me,
Vingar a afronta duma pátria ingrata.