O jovem negociante era de conversação jovial e zombeteira. Para se inculcar de fina e polida educação escarnecia de tudo quanto era do sertão, e naquela ocasião, para dar mostras de seu espírito, começou pelas cavalhadas.
- Na corte ninguém iria ver cavalhadas senão para rir-se. É um divertimento do tempo de El-Rei nosso senhor. Que papel ridículo não fazem esses papalvos que ali vão galopar enfeitados de chapéus armados, bandas, fitas e ouropéis como figuras de entremez!... E a embaixada, Santo Deus! Há nada mais estúpido! Admira que ainda haja homens sérios, que assim se atrevam a prestar-se ao debique em público sobre um cavalo dançador, repetindo de boca cheia umas asneiras que ninguém entende! É espetáculo próprio só para bobos ou crianças.
- Ora deixe-se disso, senhor Azevedo – replicou o Major – o senhor é bem difícil de contentar. O nosso povo gosta de cavalhadas, é doido por elas. Não podemos ter circos nem teatros, como nas grandes cidades; que remédio senão nos servirmos com a louça de casa!
- Ora! Façam banquetes, façam bailes, façam corridas de touros; não faltam meios de divertir-se o povo; mas deixem-se dessa triste bobice das cavalhadas.
- Mas talvez V. Sª. goste de ver estas. Os cavaleiros são excelentes; temos soberbos cavalos, e estão muito bem doutrinados.
- Qual! Nestas coisas, quanto melhor, pior! Quanto mais perfeito anda o negócio, mais ridículo. Antes fosse uma verdadeira mascarada carnavalesca e doidejante; mas aquela cómica gravidade, aquela insípida regularidade, é coisa tristemente ridícula.
- É para V. Sª. , acostumado aos brilhantes e variados espetáculos da corte; mas para nós, pobres roceiros, não há nada mais divertido do que ver um guapo cavaleiro dirigindo um bom e bem doutrinado ginete, tirar uma argolinha, e, encaminhando-se a um palanque, ofertá-la a uma formosa dama.