Mas pode ficar certo que o interesse que me inspirou, e não uma vã curiosidade, aqui me traz para junto do senhor, e que suas palavras caíram em ouvidos de quem sabe respeitar segredos e as mágoas alheias.
- Não tenho disso a menor dúvida, e muito folgo de ter esta ocasião de travar conhecimento com um homem que, segundo todas as aparências, é digno de toda a estima e respeito. Só lhe peço que não dê importância alguma às loucuras que eu estava dizendo: estava desabafando minhas mágoas com estes rochedos; são delírios da imaginação de um homem a quem a fortuna persegue.
- Perdão: eu sou mais velho, tenho também sofrido muito, e portanto me desculpará se lhe falo com uma franqueza algum tanto rude. É uma vergonha para um moço, como o senhor, ainda na flor dos anos, e que, ao que parece, tem bastante inteligência e atividade, deixar-se assim abater covardemente ao primeiro golpe da adversidade...
- Mas ah! Se o senhor soubesse as circunstâncias fatais em que me acho! Não é a falta de fortuna que eu lamento...
- Já sei; desculpe-me interrompe-lo; eu ouvi tudo, e nem assim acho justificação ao seu desalento. O senhor ama uma rapariga, não é assim? e é por amor dela que deseja adquirir alguma fortuna. É mais um motivo para querer viver e prosseguir em novos e perseverantes esforços para adquirir uma posição brilhante em que possa fazer a felicidade sua e dela. Deve ser bem fraco esse amor que sucumbe logo diante da primeira dificuldade, que não sabe lutar contra a adversidade e ao primeiro contratempo, julgando tudo perdido, só acha refúgio no suicídio, sem se lembrar que com esse procedimento pusilânime vai encher de luto e desesperação o coração de sua amante. Se todos assim procedessem, recuando, logo desde as primeiras tentativas, quase ninguém no mundo lograria seus intentos, quase ninguém alcançaria as riquezas, as honras e a felicidade.