Não lhe voltou aquela inalterável e serena alegria dos primeiros anos, nem se lhe desvaneceram as mágoas e inquietações do coração. Mas, ao pungir da dor violenta que a lacerava, substituiu-se uma melancolia calma e resignada, como noite de luar sucedendo silenciosa e triste aos horrores da tormenta.
A graça e gentileza de Lúcia, seu adorável recato e aquele toque simpático de melancolia que a envolvia como um véu, não podiam deixar de atrair a atenção e produzir impressão sobre a população da Bagagem, composta em grande parte de fazendeiros abastados dos arredores, que desprezando a enxada e o machado, puseram nas mãos de seus escravos o abrião e a bateia, e de jovens negociantes de todas as procedências, que vinham de remotas paragens tentar negócio com os garimpeiros. O Major por seu lado, para dar uma diversão às ideias melancólicas de sua filha, procurava entretê-la e distraí-la por todos os meios, e para esse fim costumava dar em sua casa frequentes reuniões, a que convidava a melhor sociedade da Bagagem.
Muitos desses negociantes, muitos filhos de fazendeiros abastados, subjugados pelos encantos da gentil roceira, ofertaram a Lúcia suas homenagens; mas para logo desistiam, não achando brecha por onde pudessem entrar nos arcanos daquele coração misterioso. Outros, mais audazes ou interpretando mal a fria amabilidade com que ela os tratara, abalançaram-se a revelar sua paixão, e mesmo a pedi-la em casamento.
- Minha filha, já tens vinte anos; acho que já é tempo de pensar no casamento, e tenho para ti um noivo que decerto não rejeitarás. É o senhor F. ; pediu-me hoje a tua mão. Acho-o muito capaz de fazer a tua felicidade.
Esta pequena alocução Lúcia ouvia sempre ao menos uma vez por semana, e todas as vezes com imperturbável e glacial frieza lhe respondia:
- Peço-lhe, meu pai, que não me fale ora em casamento; não me sinto com inclinação para esse estado.