Capítulo 9: LIVRO VII
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As opiniões dividiram-se: uns falavam em render-se, outros em fazer uma surtida, enquanto ainda tinham força. O discurso de Critognato parece-me que não deve ser passado em silêncio, por causa da sua singular e impiedosa crueldade. Era uma personagem, nascida de uma grande família arverna e dotada de grande prestígio: «Não tenho a intenção de falar, disse ele, da opinião daqueles que dão o nome de rendição à mais vergonhosa escravatura; considero que não merecem ser contados' entre os cidadãos nem admitidos no conselho. Quero dirigir-me aqueles que propõem uma surtida, e cuja opinião, como todos vós o reconheceis, conserva os traços do nosso antigo valor. Mas é fraqueza e não coragem, não poder suportar uns instantes de miséria. Mais facilmente se encontram pessoas para enfrentar a morte que para suportar pacientemente a dor. E no entanto eu render-me-ia a esta opinião, tanto eu respeito a autoridade daqueles que a dão, se não visse nisso mais que o sacrifício de nós próprios; mas, ao tomar uma decisão, devemos encarar toda a Gália, que chamámos em nosso socorro. Quando oitenta mil homens tiveram perecido num mesmo local, qual será, imaginem a coragem dos nossos pais e dos nossos próximos, se forem forçados a bater-se quase sobre os nossos cadáveres? Não privem do vosso socorro aqueles que se esquecem de si mesmos para vos salvar; não vão, pela vossa estupidez e pela vossa cegueira, ou por falta de coragem, humilhar a Gália inteira e entregá-la a uma servidão eterna. Ou então, porque não chegaram no dia marcado, vão duvidar da sua fé e da sua constância? Pois quê, pensam então que os Romanos trabalham todos os dias; sem uma razão, nas suas fortificações exteriores? Se as suas mensagens não vos podem confirmar a sua chegada, por todo O acesso vos estar fechado, tomem por testemunhas os próprios Romanos, que, assustados com este temor, trabalham noite e dia nas suas fortificações.
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