E o velho, aproximando-se mais, reparou na costura de Tomásia, e disse:
- Não tens vergonha de estar a remendar camisas à frente deste senhor?
- Agora tenho! Pois isto é vergonha? Vergonha é trazê-las rotas. Ó Sr. Silvestre, ainda que eu seja confiada, diga-me: quem lhe arranja a sua roupa?
- A minha roupa está sempre desarranjada; quando se rompe, compro outra.
- É bom governo esse! - disse ela -, assim é que há de ir para a frente da sua casa!... Se eu morasse mais perto de si, dizia-lhe que mandasse a roupa para cá... Ri-se? Talvez pense que eu não sei engomar! Veja o colarinho da camisa do meu pai como está rijo!
- Pois o melhor de tudo - atalhou o velho - é que o Sr. Silvestre venha cá para casa de vez, e então lhe tratarás da roupa.
Tomásia compreendeu o figurado do dizer e pôs os olhos na costura.
Chegavam os padres, discutindo outro ponto do artigo de fundo da Nação, e caminhámos todos polemicando, até chegarmos a um campo marginal do rio, onde o sargento-mor tinha uma pequena casa com adega.
Entrámos na adega, cuja frescura consolava. Pouco depois chegou uma rapariga com o cesto da merenda. Era uma travessa de barro vermelho cogulada de trutas fritas.
Tomásia foi a uma poça colher celgas e agriões, de que fez salada, depois de esfregar as mãos com areia da margem do rio.
Rodeámos uma dorna de fundo ao alto, sobre a qual se colocou a travessa das trutas e o alguidar da salada, donde nos servimos todos com garfos de ferro muito lustrosos.
Tomásia tirou uma truta para cima de uma fatia de pão e sentou-se no socalco da pipa, donde tirava o vinho, que ressaltava espumando pelo batoque. Bebíamos todos do mesmo pichel de estanho; e o pichel, quando caia na mão de um padre, voltava vazio à torneira.
- Dão-me que fazer os tios!.