Eram os amigos do sargento-mor, chamados e não chamados a festejar o casamento da morgada. Assim a denunciavam por ser filha única.
Encheram-se os extensos casarões de gente. Chamavam lá cobrados e casarões ao que nas terras onde já chegou a ilustração das palavras se chama “salas”.
Vinham à mistura com os lavradores muitas raparigas de alegres rostos, com abadas de flores desfolhadas.
O juiz eleito vestia casaca e o boticário parecia trazer na gola da sua todo o laboratório farmacêutico.
Tomásia trajava de cetim azul. Fora mandado vir de Chaves o vestido. A irmã do juiz eleito, que estivera a banhos na Foz, penteou-a à moda do Porto; mas a minha noiva, vendo-se ao espelho, desmanchou o penteado e formou da grande trança loura um diadema, sem mais enfeites que uma rosa de Alexandria. Por cima dos ombros, que o vestido deixava nus, lançou Tomásia um xaile de Tonquim escarlate, que eu tinha mandado a minha mãe e ela nunca vestira.
Saímos para a igreja entre alas de activo bombardeamento. Eram centenares de pessoas de ambos os sexos.
As velhas erguiam as mãos aos céus, exclamando:
- Como tu vais linda! Bendito seja Deus! Pareces Nossa Senhora!
Confessamo-nos, comungamos e recebemos as bênçãos.
Desde que saímos da Igreja até à entrada de casa caminhámos sempre debaixo de nuvens de flores. O estrondo dos bacamartes era atroador e os dois sinos da freguesia repicaram desde que saímos do templo até ao anoitecer desse dia.
Meia hora depois que chegámos entrei no quarto da minha mulher e encontrei-a de joelhos à frente de uma imagem de S. João dos Bem-Casados.
Ergueu-se ela, benzendo-se, e esperou que eu a beijasse pela segunda vez. Penso que o público me releva a confissão de que, ao dar-lhe este segundo beijo, encontrei os lábios.