Estas reflexões influíram tão fortemente em mim que resolvi apenas permanecer perto deles, e agir conforme o céu me inspirasse, observando o seu sangrento festim sem intervir em nada, a menos que surgisse algo que me indicasse dever fazê-lo.
Tomada esta resolução, penetrei no bosque com todas as precauções e silêncio possíveis, seguido por Sexta-Feira; avancei para a margem, do lado que ficava mais perto dos selvagens, de modo que só uma pequena ponta do bosque nos ficou a separar. Então, chamando em voz muito baixa por Sexta-Feira e apontando-lhe uma árvore grossa situada justamente na citada ponta, ordenei-lhe que lá fosse e me dissesse se dali se via bem o que se estava a passar. Foi e voltou imediatamente, assegurando-me que se viam perfeitamente os selvagens; que estavam todos à volta de uma fogueira a comer um dos prisioneiros e que outro, que iam matar em breve, jazia fortemente amarrado na areia a pouca distância do lume, o que me pôs fora de mim; acrescentou que este último não era um prisioneiro da sua nação, mas um dos homens brancos e barbudos que tinham ido para a sua terra, conforme me dissera. Enchi-me de horror só ao ouvir o nome de homem branco e, trepando a uma árvore vi, distintamente com o óculo de alcance um homem branco deitado na praia, de mãos e pés atados com canas ou algo que se parecia com o junco; reconheci, enfim, que era um europeu e que estava vestido. Do local em que me encontrava até àquele onde eles estavam havia mais de cem varas de intervalo, e a metade da dita distância para outra árvore, em frente da qual se achava um matagal sumamente espesso. Vi que, fazendo um pequeno desvio, poderia chegar até lá sem ser descoberto, e que dali não ficaria a mais de meio tiro de escopeta; dominei a cólera, apesar de me encontrar excitado ao mais alto grau e, afastando-me coisa de vinte passos, deslizei junto das silvas que cobriam todo o caminho até à outra árvore, onde dei com uma pequena colina, da qual pude ver claramente os selvagens a uma distância inferior a quarenta varas.