Ecce Homo - Cap. 15: Por que sou uma fatalidade Pág. 107 / 115

Só desde que vim houve outra vez a esperança. Com tudo isso, sou também, necessariamente, o homem da fatalidade. Pois quando a verdade entrar em luta com a mentira milenária, teremos tremores de terra como nunca, teremos em série movimentos tectónicos, deslocações de vales e montanhas tais como jamais ninguém sonhou. A ideia política será então completamente absorvida pela luta de espíritos, todas as relações de poderes da velha sociedade irão ao ar - porque estão todas fundadas na mentira. Haverá guerras tais como nenhumas houve na terra. Só depois de mim haverá no mundo a «grande política».

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Pretender-se-á a fórmula para tal, a expressão do destino feito homem? Encontra-se no meu Zaratustra: «E aquele que quer ser criador no bem como no mal deverá em primeiro lugar destruir e despedaçar valores.

Assim, o sumo mal faz parte do sumo bem: aí o segredo do que autenticamente cria.

Sou, de longe, o homem mais terrível que houve: o que não impede vir a ser o mais benéfico. Conheço a alegria de destruir em grau equivalente ao meu poder de destruição. Obedeço em ambos os casos à minha natureza dionisíaca, incapaz de separar acção negativa e afirmação. Sou o primeiro imoralista: e 'assim sou o destruidor por excelência.

3

Nunca me perguntaram, como deviam, qual é, na minha boca, na boca do primeiro imoralista, o significado de Zaratustra: pois bem, o que constitui o carácter grandioso e singular deste persa na história, é precisamente o contrário do que pode observar-se em mim. Zaratustra foi o primeiro a ter a luta do bem e do mal como mola essencial no jogo das coisas - a transposição da moral em metafísica, da moral apreendida como força, causa e fim em si, eis a sua obra. Mas no fundo da própria pergunta estaria já incluída a resposta.





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